domingo, 16 de novembro de 2008

Enquanto a paz não vem

A madrugada cresce assustadora nas paredes do meu quarto. Olhos vazios de sono. A escuridão, o frio, o silêncio. Da alma.

Assis é desses meninos que olham deslumbrados pelas janelas dos ônibus e têm os passos guiados pela esperança. E os ônibus são cheios de destinos que se cruzam e se separam no próximo ponto. Os sinais oscilam. As placas de trânsito indicam o caminho. Fumaça, cheiro de gasolina. E há o sol a esturricar a pele, o medo e o cansaço na face dos outros. As coisas todas fora do lugar, Assis em todos os olhares, com a sua silueta impossível, órfão de pai e mãe.
Os dias passam irrefutáveis, tomados por um não saber atroz e incessante. Não sei, não sabes, não sabe, não sabemos. Verdade nua, crua e cruel. E esse mundo dissimulado que não se cansa de fingir que está inteiro.
É tudo tão repetitivo.
Falta de sentido louca e enlouquecedora, te assalta no meio da tarde, no caminho pro trabalho, entre o segundo e o terceiro gole de café quente e amargo. Existir é como ter um punhado de areia jogado sobre seus olhos abertos ou uma espinha de peixe atravessada bem no meio da sua garganta, mas não há nada que faça se cumprir o desejo de desaparecer.
Seguimos mecanicamente, cada vez mais anestesiados, numa marcha quase fúnebre. Assis em todos os olhares, pontiagudo, todo fome e tropeço, e nós, morte na vida, irremediavelmente sozinhos.