domingo, 19 de outubro de 2008

Polpa

"No amanhecer as ruas da cidade se enchem de papéis brancos e panfletos. Cartas de amor e documentos que se dão por perdidos, podiam ser as páginas voadoras da autobiografia não-publicada de um gari. Peguei pra ler uma dessas páginas, que se rebatia pelo ar em minha direção. Era uma multa de trânsito. O trânsito está cheio de multas que se dá por perdidas.
Li, também, as páginas encarceradas de um livro didático, que ditava: Os pseudofrutos são estruturas suculentas que contém reservas nutritivas, mas que não se desenvolvem a partir de um ovário. Foi então que descobri, como se descobre o próprio nome, que eu era, nas selvas humanas, um pseudofruto."
(extraído de: relatos de um pseudofruto)